Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
(Clarice Lispector)


Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós temos - emoções.




— Caio Fernando Abreu


Triste quando uma pessoa não sabe o que fazer com o frio na barriga e decide esfriar também o coração.
(Tati Bernardi)

Desisti de achar que o príncipe vai achar o sapatinho que perdi nas escadarias. Não sinto mais impulsos amorosos. Posso sentir impulsos afetivos — mas amorosos, sinceramente, há muito tempo. É estranho, e não me parece falso, mas ao contrário: normal. Era assim que deveria ter sido desde sempre. E não se trata de evitar a dor, é que esse tipo de dor é inútil, é burra, é apego à matéria. 
(Caio Fernando Abreu)

Não é que o amor acabou, mas o encanto se quebrou.

Nos últimos dias, isto é, ontem, a tristeza começou a ceder terreno a uma espécie de — digamos — abnegação. Durmo, acordo, faço coisas, leio muito. E esse vazio que ninguém dá jeito? Você guarda no bolso, olha o céu, suspira, vai a um cinema, essas coisas. E tudo, e tudo, e tudo. 
(Caio Fernando Abreu)


Todas as manhãs ela deixa os sonhos na cama, acorda e põe a sua roupa de viver. 
(Clarice Lispector)

Era frio. Não sei dizer se fazia mais frio do lado de fora da minha blusa ou dentro do meu coração. Provavelmente competiam.
(CFA)

Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.
(CFA)



Ando um pouco para dentro, não sei se você entende.
Me fechei um pouco, de tudo.
Me abri para mim, me fechei para o resto.
Ainda não sei se é certo ou no que vai dar,
mas garanto que estou me descobrindo um pouco.
(Caio Fernando Abreu)

Essa vida viu, Zé. Pode ser boa que é uma coisa. Já chorei muito, já doeu muito esse coração. Mas agora tô, ó, tá vendo? De pedra.Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era linda, Zé, mas ninguém entendia ela, ninguém acolhia ela. Todo mundo só abusava dela. Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não tenho mais alma nenhuma. Já era, Zé. É isso que chamam de ser esperto? Nossa, então eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, Zé? Sentiu o barulho de granito? Quebrou o braço, Zé? Desculpa!
 (Tati Bernardi)

Pra não pensar na falta, eu me encho de coisas por aí. Me encho de amigos, bares, livros, músicas.
(Tati Bernardi)



Eu sofro sendo assim, eu sofro porque, quando você acha mais da metade do mundo babaca, você passa muito tempo sozinho.
(Tati Bernardi)

Às vezes eu acho que alugar uma apartamento cheio de posteres de cinema, almofadas coloridas e festinhas com amigos bacanas e músicas boas resolveria o meu problema. Me entupiria do meu mundo a ponto de eu parar de sentir falta de mim.
(Tati Bernardi)

Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo.
(Tati Bernardi)